domingo, 29 de junho de 2008

Há 50 anos, superando traumas, o Brasil conquistava seu primeiro título mundial

Por: Agências Nacionais

Júbilo incontido, loucura e delírio após conquista do Mundial

Texto baseado na edição de 1º de julho de 1958 do jornal "Folha da Manhã"

Brasil, Brasil, Brasil! O povo conseguiu, afinal, dar com loucura aquele grito que ficara atravessado na garganta desde 16 de julho de 1950. Quando o locutor anunciou o final da peleja na Suécia, bateram apressados os corações que, apreensivos mas confiantes, durante tantos dias de seguidas emoções haviam sido apertados durante os noventa minutos que decidiram a sorte do futebol brasileiro.

Campeão do mundo, de fato e com diploma, depois de considerado por todo mundo como campeão de direito. Houve de tudo, neste domingo, na mais delirante explosão de júbilo de que se tem memória. Uns gritaram até perder a voz, outros se abraçaram. Outros, já sem forças, deixaram-se cair ao solo em crises convulsivas de choro.

Os fogos ribombavam na tarde ensolarada de São Pedro. As buzinas dos automóveis, dos caminhões e dos ônibus gritavam aos quatro ventos a vitória do Brasil. Velhos e crianças, moços e senhoras, brancos e pretos, engraxates e milionários, todos beberam a mesma cerveja e se abraçaram.

Muito antes do pontapé inicial, começavam a se formar os grupinhos ao redor dos aparelhos receptores. Nas praças das principais cidades, onde foram instalados alto-falantes, nos bares, nas residências particulares, nas ruas, onde é que aparecesse um cidadão com um rádio portátil. Silenciosos a princípio, pelo clima de ansiedade, foram se formando os mais heterogêneos grupos humanos, vibrando em conjunto para gozar melhor o júbilo final, na explosão justa de um sentimento por tanto tempo recolhido.

"Foi iniciada a contenda de Brasil e Suécia, na decisão da Copa do Mundo de 58", anunciou o locutor vibrante. E pararam os corações num "suspense" de hora e meia.

Um silêncio profundo e uma amargura geral. A Suécia abrira a contagem. Logo, porém, começaria a festa. Nove minutos da etapa inicial e bola com Vavá, chuta rápido e ... gooooool do Brasil. Era o início da arrancada brasileira.

Por mais quatro vezes, exultou o brasileiro. Vavá, Zagallo e o endiabrado Pelé selavam o destino da pequenina taça de ouro, perseguida de perto pelo Brasil há vinte anos. O entusiasmo foi aumentando a medida corriam os ponteiros do relógio, e os nossos avantes iam aumentando a contagem.



Logo depois do tento de número cinco, o francês Guigue trilava o apito, e o país endoideceu. São Paulo, por exemplo, perdeu seu ar austero, e o paulistano explodiu, frenético e alucinante. A fumaça dos foguetes cobria o céu, e os gritos de todos se perdiam no alarido infernal de sirenes, buzinas e o espocar de fogos.



No Rio, subitamente começou um Carnaval fora de época. Em poucos minutos a cidade começou um corso de caminhões, cadilaques e fordecos, vindos de todos os cantos da capital. Choravam de alegria velhas senhoras que nunca haviam ouvido o nome de Gilmar ou Didi. Pulavam os garotos serelepes que torceram pelo garoto Pelé.

A alucinação coletiva tomou o país. Bandeiras nacionais aos milhares apareceram como que por encanto, enroladas sobre os dorsos de lindas jovens. Os carros ornamentados e as fantasias se avolumaram na avassaladora comemoração.

E o brasileiro varou a noite festejando o maior acontecimento esportivo do Brasil.






Nenhum comentário: