domingo, 19 de outubro de 2008

Copa do Mundo de Futsal: Brasil desbanca os carrascos espanhóis nos pênaltis e volta ao topo do mundo

Fotos e matéria: Globoesporte.com

Ao longo da carreira, Falcão jamais tinha sofrido uma lesão grave no joelho. Ao longo da partida de domingo, Franklin não tinha colocado os pés dentro da quadra. Com o drama de um e a glória do outro, a Copa do Mundo de Futsal da Fifa, enfim, escreveu um roteiro com final feliz para o Brasil. A vitória sobre a Espanha, nos pênaltis, recoloca o verde-amarelo no topo.

Com uma bolsa de gelo no joelho esquerdo a partir do segundo tempo, quando levou uma pancada, Falcão viu do banco a grande conquista de sua geração. No tempo normal, um tenso 2 a 2. Nos pênaltis, graças a duas defesas de Franklin, que substituiu o titular Tiago, a seleção brasileira desbancou os carrascos espanhóis, levantou a taça e chegou ao hexa mundial.

Os 10 mil torcedores que foram ao Maracanãzinho no domingo vibraram com o roteiro inverso ao de 2004, quando os espanhóis eliminaram o Brasil na semifinal, também nos pênaltis, após um 2 a 2 no tempo normal. Agora é festa.

Vinte minutos antes de o jogo começar, o técnico PC de Oliveira já estava de pé à beira da quadra e parecia prever o drama. Ele mandou para o jogo o mesmo quinteto usado ao longo do torneio, com Tiago, Gabriel, Schumacher, Lenísio e Marquinho. Na arquibancada, dava para contar nos dedos as cadeiras vazias. Munida de canudos infláveis, a torcida brasileira fazia muito barulho, enquanto os cerca de 30 espanhóis mal eram percebidos no ginásio.

Início marcado pelo equilíbrio
A partida começou equilibrada e com muita marcação nos dois lados. Aos poucos, o Brasil começou a encaixar jogadas de ataque. Tiago fez apenas uma defesa nos primeiros minutos, saindo nos pés de Javi Rodriguez, enquanto o espanhol Amado começava a ter muito trabalho.

Na marca de 16 minutos, sob os gritos de “Uh, tá maneiro, o Falcão é artilheiro”, o melhor jogador do planeta foi para o jogo. Àquela altura, ele não imaginava que terminaria a partida no banco. Tanto que respondeu à torcida em grande estilo. Aparecendo de surpresa dentro da área, Falcão quase fez um golaço de calcanhar, mas Amado salvou com o braço.

Enquanto a pequena torcida espanhola permanecia imóvel, a brasileira voltava a cantar. A resposta na quadra veio com Schumacher. A 11m24s do fim, ele tabelou com Lenísio e chutou por cima do gol. Dois minutos depois, bateu forte de longe e forçou boa defesa do goleiro rival.

Rodríguez, que tinha ironizado Falcão na véspera do jogo, acertou um chute na barriga do craque, logo após pisar na perna de Gabriel. Sob protestos dos brasileiros, o capitão da Fúria levou um cartão amarelo a 8m52s do fim. O encrenqueiro espanhol só estava começando.

A primeira grande chance desperdiçada pelo Brasil veio pelos pés de Vinícius, que recebeu excelente passe de Falcão e chutou em cima de Amado.




Arbitragem, mais uma vez, irritou
Mais acostumados a apitar no campo do que no futsal, os árbitros Karoly Torok, da Hungria, e Fabian Lopez , da Colômbia, irritavam as duas equipes. Na quadra e nos bancos, o clima era de reclamação constante. Até o fim do primeiro tempo, o cenário não se alterou: mais posse de bola para o Brasil, contra-ataques esporádicos da Espanha.

Na volta para a segunda etapa, os ferrolhos defensivos funcionaram. Mas não por muito tempo. A 15m45s do fim, Marquinho cobrou escanteio, a bola desviou no rosto de Borja e foi direto para o fundo da rede de Amado. Explosão da torcida no Maracanãzinho, Brasil 1 a 0.

Da felicidade ao drama
A alegria do gol logo deu lugar à angústia. Após receber uma pancada no joelho esquerdo, Falcão passou a jogar no sacrifício. Mesmo mancando, ele não afrouxava na defesa.

O cenário piorou quando o relógio chegou à marca de 12 minutos. Gabriel falhou na cobertura, e Torras encheu o pé, acertando o ângulo de Tiago. O empate calou o ginásio.

Falcão não agüentou. Com o joelho enfaixado e uma toalha sobre a cabeça, ele quase chorava no banco. O Brasil tinha Vinícius, que perdeu um gol feito, dentro da área, com o goleiro batido. O chute saiu torto, para fora, mas era só uma prévia.
Na marca de 3m37, o mesmo Vinicius foi premiado pela insistência. Após um bate-rebate na área, ele fuzilou o gol de Amado e colocou o Brasil na frente outra vez: 2 a 1. Na comemoração, emocionado, correu para o banco e apontou para Rogério e Carlinhos, que não foram escalados no domingo.

Sem Falcão, mas empolgado com o gol, o Brasil tentou segurar a pressão. Não conseguiu. A 1m32s do fim, Álvaro mostrou oportunismo e empurrou a bola para a rede. Foi um balde de água fria na torcida. Com a prorrogação pela frente, o Maracanãzinho mergulhou em silêncio.

No primeiro tempo do período extra, a torcida se manteve apreensiva. Lenísio teve boa chance no minuto final, mas chutou por cima. Na seqüência, Tiago salvou o Brasil ao defender com o pé um chute adversário.

Schumacher abriu o segundo tempo com uma bomba de longe, mas Amado espalmou a escanteio. A partida seguiu tensa até o fim, com poucas chances de gol. Com a bola rolando, 2 a 2. Nos pênaltis, lembranças ruins para o Brasil, que perdeu dessa forma para a própria Espanha na semifinal de 2004. Roteiro idêntico até o fim? Não desta vez.

Para começo de conversa, o Brasil trocou de goleiro. Tiago deu lugar ao experiente Franklin, que ainda não havia jogado na final deste domingo, mas tinha dois Mundiais na bagagem.

Quem abriu a série foi Marquinho, com um chute forte e certeiro. Kike empatou em seguida, Wilde fez 2 a 1 para o Brasil, e Ortiz igualou novamente.

Quando Ciço colocou o Brasil à frente de novo, brilhou a estrela de Franklin. O goleiro caiu para a esquerda e pegou o chute de Torras. Lenísio cobrou com categoria, e Álvaro diminuiu novamente. Ari teve a chance de fechar a série, mas chutou para a defesa de Amado.

Nos pés de um brasileiro, a última esperança espanhola
O destino espanhol, ironicamente, caiu nos pés do brasileiro Marcelo. E ele perdeu a batalha para outro brasileiro, que estava embaixo das traves. Pelas mãos de Franklin, a equipe verde-amarela fechou a série em 4 a 3.

A festa tomou conta da quadra e das arquibancadas. Com a cabeça quente, Javi Rodriguez ainda tentou arrumar tumulto, mas os brasileiros não caíram na provocação. Falcão, criticado pelo capitão espanhol na véspera, foi eleito o melhor jogador da Copa.

E o Brasil voltou a fincar sua bandeira no topo do futsal mundial.


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