segunda-feira, 29 de março de 2010

Jornalista Armando Nogueira morre no Rio de Janeiro

Globo Esporte

O jornalismo está de luto. Foi-se um representante da "camisa 10" na arte de escrever da era de ouro da crônica esportiva. Aos 83 anos, Armando Nogueira morreu na madrugada desta segunda-feira, em sua casa, na Lagoa, Zona Sul do Rio de Janeiro. Há dois anos, Armando lutava contra um câncer no cérebro – que lhe roubou primeiro a capacidade de falar e escrever, duas das atividades que mais prezava.

O velório do corpo do jornalista será a partir das 13h desta segunda-feira, na Tribuna de Honra do Maracanã, até as 11h de terça-feira. De lá, o corpo seguirá para o enterro, às 12h, no cemitério São João Batista.

No estádio, lhe foi dada uma das maiores homenagens pela Superintendência de Desportos da Cidade do Rio de Janeiro (Suderj), que inaugurou o Espaço Armando Nogueira, localizado no acesso à tribuna de imprensa. A foto do cronista aparece ao lado das de outros 72 grandes nomes da imprensa esportiva, como Ary Barroso, Jorge Cury e João Saldanha. O Governo do Estado do Rio decretou luto oficial de três dias. Armando deixa um filho, Armando Augusto Magalhães Nogueira, conhecido como Manduca, também jornalista.

De Xapuri para o Rio


Armando nasceu no dia 14 de janeiro de 1927, em Xapuri, no Acre. Mudou-se para o Rio de Janeiro com 17 anos, formou-se em Direito e começou a trabalhar como jornalista nos anos 50, no finado Diário Carioca. Foi repórter, redator e colunista. Trabalhou na Revista Manchete, em O Cruzeiro (de 1957 a 1959) e no Jornal do Brasil – onde assinou a coluna “Na Grande Área” por 12 anos.

De 1966 a 1990, trabalhou na TV Globo, sendo diretor da Divisão de Esportes e depois diretor de jornalismo, comandando o "Jornal Nacional". Em 1992, integrou a equipe da TV Bandeirantes nas Olimpíadas de Barcelona. Nos anos 2000, passou a integrar a equipe do SporTV, onde participava de mesas-redondas e tinha o programa “Papo com Armando Nogueira”. Na internet, teve um blog no globoesporte.com, o "Blog do Armando Nogueira", em 2006 e 2007. Na imprensa escrita, o jornalista trabalhou por último no diário Lance!, onde tinha uma coluna.

Seu estilo doce e anedótico, que sempre buscava olhar para o esporte com poesia, influenciou várias gerações de torcedores e jornalistas. Armando, que participou de cobertura de Copas do Mundo desde 1954 - o que totalizou 14 Mundiais -, publicou dez livros sobre esporte, a começar por “Drama e glória dos bicampeões”- sobre a vitória do Brasil na Copa do Mundo de 1962. A seguir vieram outros títulos, coletâneas de crônicas publicadas em jornais brasileiros: “Na grande área”, “Bola na rede”, “O homem e a bola”, “Bola de cristal”, “O voo das gazelas”, “A Copa que ninguém viu e a que não queremos lembrar”, “O canto dos meus amores”, “A chama que não se apaga” e “A ginga e o jogo".

Time de craques na Grande Resenha Facit

Nos fim dos anos 50, Armando participou ao lado de Nelson Rodrigues, João Saldanha e Luiz Mendes da mítica “Grande Resenha Facit” – a primeira grande mesa-redonda do futebol carioca, criada por Walter Clark, na época diretor da TV Rio. No programa, que era ancorado por Luiz Mendes, o botafoguense Armando Nogueira discutia os principais lances da rodada do fim de semana do futebol com um time de craques: o tricolor Nelson Rodrigues, o também alvinegro João Saldanha e o rubro-negro José Maria Scassa.

Em setembro de 1966, o programa, com todos os seus participantes, foi para a TV Globo, levado por Walter Clark, que havia assumido o comando da recém-inaugurada emissora. Um mês depois, Armando Nogueira foi convidado para ser o diretor de jornalismo da TV Globo.

Grandes paixões

Apaixonado por futebol e por esportes em geral, Armando Nogueira, quando não escrevia ou apresentava seus programas de TV, gostava de relaxar nas alturas. Era um fervoroso praticante de voos de ultraleve, e foi, inclusive, o fundador do clube carioca na modalidade.

Nas "pretinhas", da máquina de escrever ao computador, o Botafogo e a Seleção Brasileira foram as grandes paixões. Inúmeras crônicas de Armando retratavam seus maiores ídolos - Garrincha, Didi, Nilton Santos e Pelé - e outros grandes craques. Zizinho, Tostão, Gerson, Rivelino, Jairzinho, Maradona, Beckenbauer,Zico e Romário, por exemplo, sempre foram homenageados com o olhar especial e o texto impecável de Armando.

Algumas frases do poeta-cronista são antológicas. Definiu como poucos o Rei do Futebol:

"Pelé é tão perfeito que se não tivesse nascido gente, teria nascido bola."

Sobre o gênio das pernas tortas, foi correto ao resumir seus dribles:

"Para Mané Garrincha, a superfície de um guardanapo era um enorme latifúndio."

Nenhum comentário: