Redação
Para quem pensa que viver do futebol é apenas colher os frutos do trabalho, se engana e muito. Os Profissionais da Bola sofrem com a distância de suas casas e a saudade dos familiares, amigos, etc.
Em alguns casos, os jogadores criam raízes em cidades que chegam, constituem família, negócios. Os que não conseguem criar laços, pelos mais variados motivos, viram "ciganos", nômades do futebol.
Alguns jogadores, em nome do sustento da família, não presenciam momentos marcantes das suas vidas, para garantir que a vida das pessoas que amam seja melhor, com mais oportunidades.
A Mala Esportiva acompanhou durante a semana alguns jogadores de perto e colheu alguns depoimentos de profissionais que hoje integram o elenco do Ypiranga, "ciganos que estão acampados" em Santa Cruz do Capibaribe.
Maurício: "A última oportunidade de jogar longe de casa que eu tive foi em 2006, de lá pra cá eu me fixei de vez aqui no Ypiranga, até porque eu tenho outros afazeres quando acaba o campeonato, tenho raízes nessa cidade, e vou levando a vida por aqui mesmo. Em 2001, eu joguei em Petrolina, passei quase seis meses sem poder vir à região Agreste, quando passamos de fase e pudemos vir 'para esses lados' foi melhor, uma oportunidade de ver a família. Vê-los é importante, dá para desabafar, tirar o estresse da profissão com eles, a família é muito importante, por isso que a maioria dos jogadores casados gostam de atuar nos clubes e levar a sua família como porto seguro."
Ila, meio campo: "É difícil estar tanto tempo longe de casa, mas a família entende que o que fazemos é pelo bem deles, e sentimos saudades mas esse é nosso trabalho, quando temos férias vamos onde eles estão, eu já fui para o CRB-AL e passei mais de um ano e meio sem ver meus entes no Recife, foi bem difícil."
Júlio Cesar, volante: "Sair de casa para ganhar a vida é uma escolha difícil, mas gratificante, sair em busca dos nossos objetivos às vezes dói, mas é algo que tem que ser superado, eu já passei um ano longe de casa, ainda não era casado e deixei minha família, meus amigos lá no Rio de Janeiro para conquistar meu sonho."
Evandro, Atacante: "A saudade de casa é muito grande, estou no Ypiranga há quase um ano e meio, o clube já me deu condições de ir rever minha mãe e meus parentes e amigos, passei 15 dias lá com eles e voltei, mas a saudade sempre fica um pouco, espero ir lá novamente após o Pernambucano, se não der, 'bola pra frente', vou continuar aqui em Pernambuco, eu sei que a torcida por mim lá é grande e eu agradeço muito por isso."
Juninho Borracha, meio campo: "Muitas vezes o jogador sai ainda jovem de casa, às vezes pela situação financeira, mas em busca de um sonho de se tornar profissional, poder dar uma condição de vida melhor para as pessoas que amamos. Quando passei três anos longe de casa, em excursão pela França, inclusive eu fiquei lá jogando mas depois voltei, senti muita saudade da Bahia, da minha família."
Wilson Surubim, volante: "Antigamente, ficar longe de casa por muito tempo, eu achava que era um grande sacrifício, até porque nunca tinha saído de Toritama-PE por longos períodos, fui jogar no Guarani-SP e pensava comigo o tamanho do sacrifício que estava fazendo, mas com o tempo, vi que não é tão duro assim, porque foi a vida que escolhi, e graças a Deus eu estou trabalhando já há mais de 10 anos e sobrevivendo do futebol, tenho certeza que quando eu parar de jogar, vou sentir muitas saudades do ambiente que envolve essa profissão. O maior período de tempo que eu fiquei longe de casa, foi quando eu tinha 18 anos e passei um ano e meio em Campinas-SP, jogando no Guarani."
Marcone, zagueiro: "Nós vivemos longe de nossas famílias, é ruim ficar sempre ligando para os familiares, principalmente no meu caso, a minha mãe, que se preocupa comigo, quando estou contundido por exemplo.
A vida de jogador é como todos dizem, muito 'cigana', um dia está em um clube, em um estado, no outro dia já está em outro local completamente diferente, mas nós temos que agarrar com força a profissão que escolhemos e passar por cima de tudo, eu por exemplo passei dois anos sem vir a minha casa (Solânea-PB), quando atuava no futebol francês, longe do meu filho que inclusive nasceu quando eu estava lá, minha esposa me deu a notícia que estava grávida e só o conheci muito depois do seu nascimento."
Felinho, preparador de goleiros: "É uma vida, pode se dizer até sofrida, não só nós que vivemos da bola, mas todos os profissionais que trabalham longe de suas casas, longe de suas famílias, quando conseguem levar as famílias, eles também sofrem um pouco, para deixar empregos, entes queridos, as crianças sempre mudando de colégio, todos têm algum tipo de prejuízo, porém por outro lado, é gostoso fazer algo tão prazeroso, e dar alegrias aos times que estamos, conhecemos muitas pessoas. Com certeza, tudo tem que ter um sacrifício, e em nome da bola e do sustento, é com muito prazer o que fazemos. Eu tenho a felicidade de graças a Deus estar perto da minha cidade (Caruaru-PE), e ter a facilidade de poder ir quando quiser depois dos treinamentos até lá, mas eu evito o desgaste e o gasto financeiro de estar com frequencia me deslocando daqui até lá."
Valdo Bahia, lateral esquerdo: "As dificuldades são grandes, no meio do futebol, a concorrência cresceu muito ultimamente, eu saí de casa com 13 anos, me casei 'jogando pelo mundo', hoje tenho minha esposa e minha filha que são bênçãos em minha vida, nós sabemos o quanto é difícil superar tudo, temos que 'engolir muitos sapos' no começo, é uma profissão árdua, eu tenho alguns amigos que começaram jogando comigo e desistiram do futebol e hoje têm outras profissões. Hoje todas as crianças quando têm algum tempo de vida já sonham em serem jogadores de futebol, só quem está no meio futebol sabe como é, eu já estou nesse ramo há 13 anos, 'você pode dormir pobre e acordar rico', eu graças a Deus tiro meu sustento do futebol, todo o que tenho agradeço à bola, tudo o que dei à minha família.
Eu digo a quem está começando, que nunca desista do seu sonho, é uma profissão que tem dificuldades, mas quando Deus põe a sua mão tudo dá certo, o sucesso vira questão de tempo. Eu passei três anos sem ver meus familiares, joguei um ano e dois meses na Europa, isso ajudou muito no meu amadurecimento, aprendi a dar valor a minha família, quando você sai de casa com 14, 15, 16 anos de casa, deixa tudo para trás em busca de um sonho, embora tudo seja novidade quando você tem essa idade, é um momento de curtir tudo intensamente, mas quando chega os 25, 26 anos, o valor da família fica inestimável, é a base de tudo, o jogador que se dedica ao seu trabalho e à sua família, consegue tudo sem humilhar o seu semelhante, o segredo do sucesso é Deus na sua vida, o respeito a todos e a busca pelo seu horizonte, esse tempo que eu passei longe de Pirituba-BA, com pouca idade, me ajudou infinitamente a construir o meu caráter, o casamento como eu já disse 'pelo mundo' também me ajudou e me ajuda a amadurecer mais e mais a cada dia.
Quem desvia o jogador do bom caminho é ele mesmo, muitas felicidades de momento aparecem, mulheres, festas, e até mesmo drogas não aparecem só para quem procura, mas quem resolve se envolver com esse tipo de coisa geralmente não dá certo no mundo da bola.
Para os jovens eu deixo o conselho de que o estudo, o conhecimento de forma geral é de extrema importância, e as oportunidades não podem ser desperdiçadas com bobagem, mesmo que você tenha talento com a bola nos pés, estude para ser um jogador completo dentro e fora de campo." Valmir Sabino, preparador físico (um dos idealizadores dessa matéria especial): "Nós somos conhecidos como nômades e não é a toa, vivemos em busca do nosso sustento, nessas idas e vindas, temos que ter em casa uma base muito especial, uma companheira, uma família unida que é a nossa base de sustentação, dá muito apoio e por eles nosso esforço vale a pena.
Eu estive em Portugal a trabalho e passei 10 meses sem ver a Eline (esposa) que mora lá em Goiânia-GO, ela é goiana e nós temos uma afinidade ímpar, confiança e companheirismo, torce pelo nosso trabalho à distância, quando perdemos, ela aconselha, incentiva, dá apoio emocional para continuarmos lutando, quando vencemos ela sempre está lá para comemorar conosco.
É engraçado que em todos os jogos a Eline fica aguardando perto do telefone para saber o resultado, no jogo contra o Sport foi muito legal, terminamos o jogo e ficamos muito felizes, principalmente eu que tinha com quem partilhar a minha alegria, tão perto e tão longe, ao mesmo tempo.
O profissional de futebol tem que ter uma equipe de peso com ele para cuidar de todos nós, a minha equipe, formada pela Eline, Dona Aparecida (sogra), meus cunhados Wellington, Vicente, Eliane, meus sobrinhos Gustavo, Henrique, Bruno Guilherme e também a Virgínia são muito importantes na minha vida pessoal e profissional. eles têm cuidado comigo, sempre perguntam como estão as nossas condições, o nosso trabalho sem a minha família eu não obteria nem a metade do meu sucesso."
sexta-feira, 27 de março de 2009
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