Olha onde Fagner foi se meter... Huracán e Vélez tomam lugar dos "grandes" e decidem título na Argentina

Em 2008, o futebol argentino ficou marcado pela pior campanha do River Plate em campeonatos nacionais. Os Millonarios surpreenderam ao terminar o Torneio Apertura na lanterna, o que os levou a uma crise sem precedentes.

Neste ano, a novidade é a queda de rendimento do badalado Boca Juniors, 17º colocado entre os 20 clubes que disputam o Clausura. O cenário favoreceu os "coadjuvantes" Huracán (onde estão atuando Anderson, ex-Salgueiro e Fagner,ex-Ypiranga)e Vélez Sarsfield, que se enfrentarão neste domingo no jogo que vale o título desta competição.

Os dois torneios que formam a temporada argentina, Clausura e Apertura, são disputados, respectivamente, no primeiro e no segundo semestre, em turno único, por pontos corridos. O campeão da primeira etapa será definido apenas na última rodada, coincidentemente após o confronto entre os dois primeiros colocados. O Huracán lidera com 38 pontos, um a mais que o Vélez, que tem a chance de reverter a desvantagem jogando em casa.

Os visitantes chegarão à partida sob o peso de um tabu de 36 anos sem título. O último veio em 1973, quando a equipe era dirigida por Cesar Luis Menotti, campeão mundial pela Seleção Argentina cinco anos depois. A proximidade do título está deixando os Quemeros, como são chamados os poucos torcedores do time (0,6% da população do país), em polvorosa. Nas últimas semanas, ocorreram vários confrontos entre as torcidas organizadas do clube, com duas mortes.

Apesar de ter um estádio confortável (Tomás Adolfo Ducó, com capacidade para 48.292 pessoas), o Huracán é um time de porte pequeno na Argentina, mais conhecido por ter revelado o craque Alfredo Di Stefano nos anos 50. Buscará neste domingo seu sexto campeonato nacional, inspirado pelo carisma de seu treinador, Angel Cappa, ex-meia da Seleção Argentina na Copa de 1982 e ex-militante contra a ditadura que tomou conta do país nos anos 70 - chegou, inclusive, a buscar exílio.

"Tenho um problema com as pessoas que perderam seus sonhos, sua alegria, sua esperança de transformar a realidade, de transformar o futebol. O Huracán está voltando para suas origens, para o futebol que sempre jogou em sua vida", afirmou o comandante dos Anjos de Cappa, como a imprensa apelidou a equipe sensação do torneio, em entrevista recente.

O discurso do técnico é carregado de nostalgia. Discípulo de Menotti, Cappa é adepto do "jogo bonito" que marcou os times argentinos até os anos 70. "Isso tem que servir para o futuro do Huracán. Temos que iniciar um caminho para recuperar o prestígio que o futebol perdeu", afirmou. Não à toa, sua equipe tem o melhor ataque do campeonato, com 35 gols, sete deles marcado pelo meia Javier Pastore, 20 anos, que só não se transferiu para o Botafogo-RJ no começo do ano porque os argentinos não aceitaram a forma de pagamento pelo empréstimo.

Se o Huracán destaca-se pela ofensividade, o Vélez chega à decisão respaldado pela melhor defesa do campeonato (apenas 13 gols sofridos em 19 jogos) e pela regularidade - sofreu apenas uma derrota, contra quatro do rival, e ficou 13 jogos invicto. O principal nome da equipe é o baixinho Maximiliano Moralez, de 22 anos e 1,61m, dono de futebol habilidoso e objetivo. Frasquito, como é conhecido, foi revelado pelo Racing, passou pelo Moscou-RUS, e foi contratado em janeiro para comandar o meio-campo do Vélez. É o vice-artilheiro do time no campeonato, com quatro gols.

Campeão nacional pela última vez em 2005, o clube localizado no bairro de Liniers, em Buenos Aires, tem maior tradição que o Huracán, embora seja considerado de médio porte. Em 1994, comandado por Carlos Bianchi, multicampeão pelo Boca Juniors, e pelo ex-goleiro-artilheiro Chilavert, o time ganhou a Libertadores e o Mundial Interclubes, passando por cima de São Paulo e Milan, respectivamente.

A imprensa argentina aponta o Vélez como favorito por sua maior experiência em decisões nos últimos anos, apesar de precisar vencer o duelo. "Acredito que a partida contra o Huracán será emocionante", imagina o técnico do Vélez, Ricardo Gareca, ex-ídolo da própria equipe como jogador nos anos 90.